quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O capitalismo e seu caráter destrutivo!

            “Houve um tempo em que contemplar a produção da abundância e a suplantação da escassez era inteiramente compatível com o processo e as aspirações capitalistas. Hoje em dia, dentro do horizonte do ‘desenvolvimento’ e da ‘modernização’ capitalistas, tais objetivos aparecem somente nas racionalizações ideológicas dos cínicos apologistas do sistema estabelecido.”. Estas palavras são de István Mészáros, pensador húngaro que, entre tantos outros temas, debate sobre a natureza destrutiva do modo de produção capitalista, em seu livro intitulado Produção destrutiva e estado capitalista (São Paulo: Editora Ensaio, 1989). O argumento fundamental do autor – e que pode ser extraído do trecho acima citado – se fundamenta na constatação de que, a forma pela qual os seres humanos produzem a riqueza socialmente necessária na sociedade capitalista, degrada de forma irreversível e cada vez mais intensa os seres humanos e a natureza; pensar em “desenvolvimento” e “modernização” dentro dos marcos capitalistas é impossível, na medida em que a produção das mercadorias se sustenta na exploração humana acima referida, bem como no esgotamento dos recursos naturais disponíveis na Terra. Sendo assim, somente os defensores do sistema acreditam e propagandeiam a possibilidade de tal “desenvolvimento”. Segundo Mészáros, jargões como “sustentabilidade”, “consumo racional”, ou “desenvolvimento sustentável”, não passam de expressões ideologicamente falsas, que camuflam e falsificam a real dimensão das relações sociais – e suas consequências – necessárias à reprodução do capital.       Para sustentar o argumento, o autor desenvolve conceitos de extrema importância, que nos ajudam a compreender a lógica da produção na sociedade em que vivemos. O primeiro destes conceitos é assim denominado: Taxa de uso decrescente no capitalismo; o raciocínio é mais ou menos o seguinte: como a lógica econômica da sociedade em que vivemos se assenta na acumulação de capital, todos aqueles que investem capital, sobretudo na produção, possuem como objetivo primeiro acumular uma quantia de capital maior do que aquela investida inicialmente; para que isso ocorra, é necessário que as mercadorias produzidas sejam consumidas (quanto mais mercadorias consumidas, maior será a acumulação de quem produz); para tanto, observamos na atualidade uma constante diminuição da taxa de uso das mercadorias disponíveis aos consumidores, ou seja, as mercadorias possuem um tempo de utilização, uma durabilidade menor do que em tempos passados – provavelmente todos nós já ouvimos o ditado “não se fazem mais coisas como antigamente!”. Pois bem, se as “coisas” que consumimos (mercadorias) duram menos, significa que necessitaremos de novas mercadorias num espaço menor de tempo, portanto a produção destas deverá se acelerar para suprir tais necessidades sociais. Em síntese, produz-se cada vez mais mercadorias que possuem uma vida útil cada vez menor. Isso se dá como forma de ampliar o processo de acumulação de capitais que está na origem do modelo econômico. As consequências sociais desse processo são extremamente danosas para todos os seres vivos, pois os recursos necessários à produção cada vez mais ampliada destas mercadorias, são extraídos de fontes naturais não renováveis. Com isso, os seres humanos interferem e alteram cada vez mais os ciclos reprodutivos da própria natureza, alterando assim e colocando em risco, sua própria existência na Terra. Para tal constatação, basta que observemos todo o debate sobre o aquecimento global! Eis o caráter destrutivo do capitalismo.                                                                   Mészáros argumenta ainda que o maior exemplo que ilustra esta característica na atualidade é o chamado Complexo Militar-Industrial, ou de outra forma, todo o complexo produtivo que envolve a indústria armamentista. Ora, qual é a mercadoria produzida pela indústria bélica? A resposta é simples: todo tipo de tecnologia, equipamentos e armamentos que devem ser utilizadas em combates. Portanto, para que este complexo militar-industrial possa acumular riquezas, suas mercadorias precisam ser consumidas; para que isto ocorra são necessárias guerras constantes, onde a produção será “consumida”; no entanto, o resultado da “produção” armamentista é destruição de riqueza e, principalmente, de seres humanos! Seria por acaso que a maior potência econômica do mundo na atualidade, os Estados Unidos da América, possui a maior indústria bélica do mundo? Os maiores “colaboradores” nas campanhas eleitorais presidenciais estadunidense são as indústrias armamentistas. Isso não é um mero acaso!!!             Pensando com Mészáros: como podemos falar em produção da “abundãncia”, em combate à “escassez”, em “desenvolvimento sustentável” diante de tal quadro de questões!?
                                                                                                                                          “Nôri Nello”



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