Às vésperas de uma movimentação mais incisiva da frente de paralisação dos médicos das Unidades de Saúde da Família da cidade de Marília, é preciso construir alguns pontos de análise acerca dessa manifestação. Das reivindicações, a mais nítida é aumento salarial, evidenciando a dificuldade desses profissionais em enxergarem-se como parte de uma categoria, que por sua vez integra a imensa classe trabalhadora. Essa sensação de estranheza advém de um posicionamento histórico de autonomia dos profissionais médicos em relação ao mundo do trabalho, fortalecido pela manutenção de uma realidade falseada imposta pela leitura hegemônica do mundo das classes dominantes. Assim, mesmo que trabalhando em condições realmente opressivas, em que a lógica do cuidado é subvertida para atendimentos exclusivamente curativos em unidades apinhadas de gente, esses profissionais dificilmente enxergam seu papel fundamental de assegurarem a repressão das insatisfações populares nessas comunidades, além de disponibilizarem terapias sintomáticas que recolocam os trabalhadores na condição de poderem vender sua força de trabalho de forma eficaz, cumprindo um papel de reprodução e controle desse único bem dos proletários. No caso da saúde, à medida que o Estado, aparelho das classes dominantes em cada época, exime-se da responsabilidade de garantia dos aspectos legais do SUS, demonstra-se um enfraquecimento do poder de "auto-coação" sobre a ação do Capital. Assim, há a transferência dos serviços para a tutela de organizações sociais de natureza privada, que obviamente intencionam explorar os trabalhadores com o objetivo de ampliar seus rendimentos, tal qual ocorre nas USFs da cidade de Marília. Nessas organizações, para piorar o quadro de dispersão, há a gradual consolidação do novo sistema de empregos, caracterizado pela flexibilização e pela pseudo-autonomia, atingindo mormente as possibilidades de organização efetiva da categoria. Portanto, apoiamos a frente de paralisação dos médicos da USFs por considerarmos fundamental a luta por melhores condições de trabalho, além do incentivo à organização desses trabalhadores como categoria realmente valorizada.
El Loco
Sugestão de leitura:
Armenes Ramos. "A formação de um intelectual coletivo: um estudo sobre o percurso dos militantes ma construção da saúde do trabalhador do Paraná" - Setor de Educação, UFPR. Tese de Doutorado.
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