Todos os dias consumimos uma série de mercadorias que são necessárias para nossa reprodução biológica e social. Ou seja, para nos mantermos vivos necessitamos de nos alimentar, vestir, morar, etc. A manutenção da vida humana é fundamental para a manutenção da sociedade em que vivemos, afinal, sem seres humanos, não há sociedade. Portanto, toda a riqueza, todos os bens produzidos socialmente, são trocados cotidianamente por mulheres e homens, para que estes possam dar prosseguimento a suas vidas; é o que chamamos de compra e venda de mercadorias. Para que essa mercadoria seja consumida (comprada/vendida), ela precisa circular pelo mercado; mas antes disso, ela precisa ser produzida. Toda mercadoria, para ser produzida, depende de uma série de elementos naturais, denominados genericamente matéria-prima; essa matéria-prima é extraída diretamente da natureza. Os seres humanos, através da atividade criadora e transformadora do trabalho, imprime “valor”, “forma” e “conteúdo” a esta matéria-prima, criando algo totalmente novo, que não existe na natureza. Portanto, quanto maior for a produção de mercadorias, tão maior será a necessidade de matéria-prima. O problema começa a surgir quando percebemos que certos recurso naturais (matéria-prima) não são renováveis, ou seja, não são capazes de se reproduzir naturalmente. Melhor dizendo, a maioria dos recursos naturais não são renováveis, isto é, existem em uma quantidade determinada e finita (acabarão um dia).
Acontece que, a forma econômica que organiza hoje todas as sociedades do planeta, denominada genericamente de capitalismo, se fundamenta exatamente na produção, na circulação, na distribuição e no consumo dessas mercadorias. Ou seja, o objetivo de quem é proprietário de algum negócio é produzir e vender sua mercadoria para poder acumular alguma riqueza; portanto, quanto mais mercadorias forem produzidas e vendidas, mais riqueza será acumulada. Em linhas gerais (e até de forma bem simplificada), essa é a lógica de acumulação de riqueza na sociedade capitalista.
Portanto, vivemos numa contradição, ao nosso ver, indissolúvel, qual seja: para reproduzir a sociedade em que vivemos, necessitamos cada vez mais de retirar da natureza matérias-primas que não são renováveis. No entanto, este processo já provocou conseqüências irreparáveis e irreversíveis no meio ambiente, demonstrando que, do ponto de vista químico-biológico, e até mesmo físico, a Terra já “demonstra” claros sinais de esgotamento!
A pergunta que quero deixar para nossa reflexão é a seguinte: será possível pensar ou defender algum tipo de desenvolvimento sustentável, numa forma econômica cuja essência se apóia na exploração intensiva e extensiva do homem e da natureza? A lógica da produção capitalista é ditada pela valorização da mercadoria, ou seja, através do trabalho, o ser humano cria valores que são acumulados privadamente. Portanto, quem acumula riqueza, buscará sempre a valorização dessa riqueza; para isso se faz necessário um crescimento constante do consumo, que por sua vez se assenta na produção, também constante, de mercadorias. Assim, a prioridade da forma sociometabólica regida pelo capital não é o ser humano, mas sim a produção, valorização e acumulação privada da riqueza. Como podemos pensar em sustentabilidade numa sociedade onde o ser humano, o trabalhador, é um mero apêndice do processo social de produção da riqueza?
Para pensar: estatísticas recentes apontam que, anualmente, a produção mundial de alimentos é três vezes maior do que a necessidade de todos os habitantes do planeta. Sendo assim, por que encontramos continentes inteiros vivendo abaixo da linha da miséria, onde adultos e crianças não possuem acesso ao mínimo de dignidade humana?
Continuaremos a discussão em nossos próximos encontros. Até breve!
Nôri Nello
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