Assunto em voga na ultima semana, as ocupações policiais às favelas no Rio de Janeiro vem sendo acompanhadas de perto pela mídia e pela população. Ao analisarmos o teor do discurso geral colocado nos meios de comunicação, vemos que, em geral, esse é de grande otimismo e satisfação, transparecendo a crença de que essa é a medida que decretará fim aos problemas de segurança pública no Rio de Janeiro. Entretanto, tal análise mostra-se bastante reducionista se nos voltarmos ao entendimento das contradições colocadas na sociedade atual. Essas acabam sendo determinantes para a propagação e continuidade da violência e do crime organizado. Sendo assim, analisaremos a questão sobre uma ótica que a mídia hegêmonica não abordará. De início, apresentemos a visão dos criadores do projeto: A Unidade de Polícia Pacificadora, conhecida também pela sigla UPP, é um projeto da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro que pretende instituir polícias comunitárias em favelas principalmente na capital do Estado, como forma de desarticular quadrilhas que antes controlavam estes territórios como estados paralelos. Segundo o comandante geral da PMERJ, a ideia do projeto é “retomar os territórios apropriados criminosamente por bandos e facções, livrando seus moradores das garras despóticas e assassinas dos traficantes de drogas, foi o desafio a que se propos o Estado do Rio de Janeiro; seus governantes, sua segurança pública e sua população, inexcedível em talento, alegria e espírito pacificador. As UPP´s vieram para ficar. Elas materializam um sonho de liberdade. ‘’ (CEL PM Mário Sérgio de Brito Duarte)
De fato nos locais em que as UPP´s foram instaladas houve grande diminuição da criminalidade, tornando menos pior a qualidade de vida daquelas populações locais. Entretanto, apenas desarticular e afastar o crime organizado daquele local não afasta as reais condições que levam algumas daquelas pessoas a entrarem para o mundo do crime. Vivemos dentro de uma estrutura de sociedade em que a desigualdade social é gritante e as minorias são exploradas e não conseguem ter acesso aos bens produzidos pela sociedade, nem encontram respaldo do Estado nas questões em que dele precisam. Assim, vemos que, para a grande parcela da população, o acesso a educação é muito dificultado (sem entrar no mérito de a educação tal como está colocada não ser realmente transformadora pois não capacita o indivíduo a ter uma visão critica da sociedade), o transporte público não consegue atender a real demanda e ainda cobra tarifas abusivas, dificultando e encarecendo ainda mais a locomoção das pessoas, principalmente daquelas que moram nas periferias, que mais necessitam desse serviço e acabam perdendo horas do dia bem como boa parte do salário para irem aos seus trabalhos em condições de superlotação. Voltando à questão do trabalho, vemos que as populações mais pobres acabam ocupando os cargos em que a remuneração é menor, as condições de trabalho são insalubres, e o nível de satisfação com a atividade exercida é baixo. Isso quando conseguem emprego, já que são barrados por serem julgados como menos capacitados (não tiveram acesso à educação), ou por sofrerem preconceito quando são negros e/ou moram em favelas. Alem disso, tem-se a questão do acesso à lazer cultura e etc, essenciais na vida de cada indivíduo e que, no caso dos moradores dos complexos de favelas e localidades pobres em geral, alem de não ser oferecido praticamente nenhuma infra-estrutura voltada para esses fins, muitas vezes a carga horária e o desgaste decorrente do trabalho nessas pessoas a impedem de efetuar alguma atividade nesse sentido.
E como se não bastasse todas as privações que os menos providos de recursos tem que passar por motivos intrínsecos à organização da sociedade no sistema capitalista, eles são o tempo todo bombardeados com informações da mídia que colocam como ideais padrões de vida, de beleza e de consumo que estão muito longe da realidade dos indivíduos pobres( grande maioria da população) , e que acabam por gerar em grande parte da população e principalmente nessa parcela, grandes frustrações.
No caso das UPP’s bem como em muitos outros, o que vemos são apenas medidas paliativas, que resolvem uma parcela do problema pontualmente enquanto a lógica perversa do sistema capitalista produz os alicerces para a perpetuação do mesmo. Assim se dá, por exemplo, com as cotas sociais e raciais nas universidades públicas, que de fato aumentam o ingresso das parcelas consideradas na universidade, mas de maneira nenhuma vão isoladamente resolver o problema, já que o que leva os pobres e negros a terem menos acesso não está sendo alterado. Assim se dá também com o bolsa família, que apesar de ter tirado boa parcela da população da miséria, não proporciona a essa uma emancipação e melhoria, para que o indivíduo possa ter condições de por si próprio melhorar seu padrão de vida. O mesmo ocorre também com as UPP’s,que apesar de diminuirem a criminalidade pontualmente, vão gerar uma parcela de população que não terá mais condições de morar naquela região devido ao aumento dos custos que a legalização da água e da luz bem como a valorização da região no mercado imobiliário trarão e com isso se mudarão para outras regiões ; bem como não combaterão a real causa da criminalidade, e o crime organizado passará a atuar onde lhe for possível ( na “pista”, nos morros não ocupados, na região do interior, em outros estados, etc), continuando o problema insolucionado. Certamente o “sonho de liberdade” citado pelo CEL PM Mário Sérgio de Brito Duarte não se concretizará com essas medidas isoladamente.